Capítulo 63

Abri a porta e o Lucas estava lá parado com os ombros tensos e a expressão de preocupação tomou conta do seu rosto quando viu o meu.

Lucas: Você tava chorando, Heloíza? - ele falou ainda incrédulo

Helô: Passa pra cá, a gente vai conversar - dei passagem e depois que ele já estava pela sala, eu encostei a porta

Lucas: Eu não tô entendendo o que cê quer, pra que esse mistério todo? Dá pra me contar o que tá acontecendo?

Helô: Dá... - respirei fundo - A gente precisa terminar!

Lucas: O que que cê tá falando? - ele dizia ainda calmo, mas com a mesma expressão incrédula

Helô: O que você bem ouviu, Lucas, a gente precisa terminar e é isso. - falei firme, mas passando a mão entre o meu cabelo e tentando desviar o olhar. Seria impossível sim encará-lo nesse momento!

Lucas: Não, Heloíza, não é isso e acabou não. Cê tem que ter alguma razão? Como assim do nada? Cê tá ficando louca? O que aconteceu? - ele lançou um monte de perguntas e eu não sabia o que responder, porque de fato elas não tinham respostas. Me mantive em silêncio e ele me encarava fielmente, enchendo minha garganta de nós a ponto de que eu sabia que a qualquer momento poderia explodir. Aquela conversa não deveria se estender. - Hein, Heloíza, eu tô falando, dá pro cê me responder?

Helô: Não precisa nada ter acontecido.. Eu estive hoje o dia inteiro pensando a respeito disso e eu não quero mais, Lucas! 

Lucas: Heloíza...

Helô: O que foi? Eu tenho esse direito, não tenho?

Lucas: Não, cê num tem! Não assim sem uma explicação, tão do nada... Tava tudo bem até hoje de manhã, o que que eu fiz pra tudo ter mudado assim?

Helô: Por que só você tem que ter feito algo? Pode ser coisa minha, sei lá, tem inúmeras razões. 

Lucas: Cê tá estranha, isso não tá normal

Helô: Para de repetir isso e respeita o que eu quero? - ele respirou fundo e eu gelei com medo de não aguentar com aquela conversa até o final

Lucas: Então... Acabou?

Helô: É isso, acabou! - repeti com a voz ríspida, mas logo desviei meus olhos dos dele para não perceber qualquer reação dele. 

Lucas: Eu não tenho razões então pra estar aqui... - ele passou por mim quase que me derrubando de tão enfurecido e lançou sua mão na maçaneta da porta, mas antes de abrir, voltou seu raio de visão até mim - Eu pensava que cê era louca só, mas hoje eu vi que cê é egoísta, cê é fria de verdade... Realmente, eu tava enganado. Não dá pra te entender! - Nessa hora, o meu sangue subiu e eu não ia evitar mais aquilo. Eu não era egoísta, porra! Eu tava tentando proteger os sonhos deles. Mas ele não podia sair da minha casa falando aquilo, ainda que eu pudesse estar cometendo um erro. Sempre fui uma pessoa muito mais racional que sentimental e se é a verdade que ele quer, então ele vai tê-la. 

Helô OFF

Lucas ON

Eu tava tão puto com aquela atitude sem pé nem cabeça da Heloíza que eu nem conseguia sentir dor pelo o que ela estava fazendo. Inclusive, despejei meia dúzias de palavras que me passaram pela cabeça quando eu mal pensava e na hora em que estava saindo do apartamento, ela me chamou de novo, me fazendo virar com passos fundos.

Helô: Oh Lucas, espera aí, agora você vai ouvir!
Lucas: Cê acha que ainda tem direito de brigar comigo nessas circunstâncias, Heloíza? - falei aumentando meu tom de voz como poucas vezes
Helô: Primeiro, você não grite comigo! Segundo, eu não vou brigar, só não vou deixar você sair da minha própria casa falando esse monte de merda... Você não quer a verdade? Então entra aqui que eu vou te contar. Eu queria te poupar, mas pelo visto é difícil, então vamos...
Lucas: Cê hoje não tá falando coisa com coisa, sério...
Helô: Entra aqui e senta pra gente conversar como gente, Lucas! - eu juro que não estava entendendo nada. Bati a porta e fui sentar, impaciente com todo aquele circo armado, pra saber do que ela tinha pra falar. Ela não disse nada e sentou também, bem de frente pra mim.
Lucas: Fala ué, pra que cê armou esse circo então? Espero que a justificativ..
Helô: Eu tô grávida, Lucas! Grávida! - ela soltou essas palavras como forma de despejo sobre mim, me interrompendo e me deixando completamente sem reação. COMPLETAMENTE! Nunca ia esperar que ela fosse dizer uma coisa dessas. Meu coração estava batendo a ponto de eu sentí-lo sobre o meu peito e eu conseguia ver vários músculos meu tremendo. 
Lucas: Eu vou se-s-e-r-ser pai? - disse num gaguejo sem fim, não conseguia assimilar se de fato aquilo era uma realidade
Helô: Claro, Lucas, do Papa que esse filho não pode ser! - ela falou bem daquele tipo dela, com resposta na ponta da língua. Ainda que eu quisesse rir, eu não estava bem. Não mesmo! Precisava muito processar aquelas ideias. E para me ajudar, ela continuou a falar, só que dessa vez mudando a expressão para um pouco mais triste, confesso que me assustando um pouco - Eu não sou egoísta, eu não sou! Não com você! Queria terminar nosso namoro pra te proteger, sei lá se eu posso fazer isso... Eu não queria esse filho, não quero interromper minha vida dessa forma, mas eu queria que você, pelo menos, pudesse seguir com a sua normalmente, sabe? - ela não conseguia conter as lágrimas e esteve submersa a um jeito que eu nunca vi a Heloíza em todo esse tempo - Você tem tudo que sempre quis e isso te atrapalharia, eu tenho certeza disso. Você sabe que eu não sou de fazer drama e nem quero que pense isso, mas se eu pudesse ter uma chance de não ter essa gravidez agora, eu não teria e quis dar essa oportunidade a você - ela falou nervosa, passando a mal no rosto, aflita de verdade
Lucas: Eu não consigo entender - falei após um breve suspiro para tomar fôlego e encarar essa situação - Quando foi o dia que passou pela sua cabeça que eu não gostaria de ser pai? Porque eu falo contigo sobre isso todos os dias, todo mundo sabe o quanto eu quero isso pra mim
Helô: Ah eu sei lá, Lucas! O fato de eu não querer me faz achar que ninguém quer. A diferença é que eu sou obrigada a passar por isso, mas as outras pessoas, como você, não.
Lucas: Heloíza, entenda uma coisa - eu segurei as mãos dela - Cê nunca ia poder esconder isso de mim, porque cê acaba de tornar realidade o maior sonho da minha vida. Eu não sei o que falar direito sobre isso ainda, mas tenha toda certeza do mundo que eu sou o cara mais feliz do mundo agora! E mesmo se eu não fosse, se essa notícia fosse péssima para mim, eu não ia te deixar na mão. Cê não é obrigada a ter essa gravidez sozinha se cê não faz filho sozinha, dá pra entender? Eu iria tá contigo em todas as hipóteses, sendo que nessa é ainda mais feliz porque tudo que eu queria acabou de acontecer. Cê tem que parar de pensar besteira, cê ia me privar da melhor fase da minha vida, cê tem noção disso?
Helô: Desculpa... - ela soltou isso quase que como um sussurro no meio das lágrimas - Mas eu não queria tá grávida, eu não queria um filho pra minha vida agora! - ela soltou as mãos das minhas e se levantou, num súbito, andando lá pela sala e ficando de costas pra mim
Lucas: Para de falar assim, para de ficar repetindo isso! O que a gente tem aí agora é a maior benção que pode existir - eu também levantei para ir ao encontro dela
Helô: Não é possível, vocês não veem as coisas do mesmo ponto de vista que eu. É só parar pra pensar, Lucas! Isso não é pra gente agora! - ela se virou e eu já estava bem de frente pra ela 
Lucas: Cê tem que parar de ser tão racional... Vai mudar muita coisa memo, mas a gente vai dá nosso jeito. Pra tudo tem solução! E eu vou tá contigo, não pensa em problema agora, pensa só no nosso filho. Divide essa felicidade comigo, Helô, por favor!
Helô: Eu não consigo ser assim, isso não é um sonho pra mim...
Lucas: Shiiii - passei os dedos nos lábios dela e depois passei para limpar algumas lágrimas que ainda tinha no rosto dela - Me abraça, por favor?
Ela não disse mais nada e fez esse gesto de forma rápida, me apertando forte, como quem pede socorro. Nunca vi a Heloíza tão vulnerável assim na minha frente, mas a abracei da mesma maneira, como quem não reparasse isso. Quis passar para ela que eu estaria ali para tudo e o melhor, mostrar o quanto eu estava feliz com isso. É, mlkinho... Eu vou ser pai! Tudo que eu mais queria nessa vida era ter um amorzinho assim para namorar o tempo todo, mimar muito e principalmente: amar sobre todas as coisas. Eu queria entender sobre esse sentimento e descobri que ele é mais engraçado do que parece. Só de saber da notícia já estou mexido, com meu coração sem saber expressar a alegria. Coisa que eu nunca tinha sentido antes, isso é algo que eu garanto. Uma coisa boa que vem de dentro pra fora e me deixa derramar algumas lágrimas, em conjunto dela. As minhas demonstravam a mais profunda gratidão por ter acontecido isso na minha vida, ainda que sem planejamento. Sempre dizem por aí que as melhores coisas ocorrem assim e mesmo que seja um filho, será muito bem vindo e a gente vai se adaptar para dar tudo o que houver de melhor para ele. Só de estar tão colado no corpo dela, meu coração disparava ao sentir a barriga dela perto de mim. Não tinha nada ali externamente, mas dentro começava a existir a pessoa com a qual eu teria o maior laço da minha vida. O meu sonho que virou realidade, mais um deles e quem sabe até o maior. Deixei que aquele abraço durasse o máximo de tempo possível para que eu também pudesse entender sobre aquele momento, aquela notícia e deixasse o meu corpo colocar para fora todas as lágrimas possíveis que eu contive enquanto conversava com ela. Ela foi me soltando aos poucos e acho que se surpreendeu quando viu que eu também tinha chorado durante aquele tempo.
Lucas: Só quero que cê saiba que, independente do que cê ache, cê me deu a melhor coisa que eu já podia ter me dado. Obrigado! - dei um beijo na testa dela
Helô: Para com isso, Lucas, sério... - ela saiu ali da minha frente e sentou de novo no sofá, colocando as pernas na mesinha de centro que tinha lá e jogando a cabeça para trás - Eu ainda não consigo pensar assim e nem sei se vou conseguir
Lucas: É claro que vai, Helô! Já já cê vai sentir uma coisa inigualável, como eu já estou, e vai entender do que eu tô falando. - apesar do que eu disse, ela se manteve quieta, na mesma posição, só que dessa vez com os olhos fechados - Eu vou deixar cê ficar quietinha, eu sei que é isso que cê quer, mas me diz quando cê descobriu isso? Foi hoje?
Helô: Foi! Quando a Isabella veio pra cá e teve a brilhante ideia da gente ir no hospital, porque eu ainda tava passando mal.
Não falei mais nada e passei para sentar lá no outro sofá. Deixei ela bem a vontade pois por tudo que a gente falou, eu sei o quanto ela precisava pensar, precisava desse momento dela. Fiquei observando a Helô por inteira e com a cabeça já borbulhando de ideias a respeito do nosso filho. Inclusive, já tô acostumado com essa ideia de chamar esse ser assim.Se quero muito vê-la já nessa mesma posição, só com o maior barrigão para eu poder conversar muito, imagina quando esse bebê nascer? Só posso agradecer a Deus por isso, por ter tocado o coração dela e não deixado me esconder isso, e principalmente por que eu sei que vai me fazer ser o papai mais babão que essa criança poderá ter. Quando me dei conta e fugi um pouco dos meus próprios pensamentos, olhei e vi a Helô já em sono. Imagino que com toda aquela confusão que ela tava sentindo, essa era a única solução para sair daquele caos. Ao mesmo tempo que eu conseguia entendê-la, principalmente pelo jeito que ela tem, eu só queria pedir pra que Deus a mostrasse o quanto nós estávamos ganhando um presente. Me aproveitei desse tempinho de descanso dela e fui sentar lá do lado da mesma. Meus olhos não conseguiam sair da barriga dela e eu acabei colocando, devagarzinho, a mão por cima. Ela se mexeu um pouco, mas não o suficiente para acordar, graças a Deus. E assim, veio na minha cabeça uma única música: Mozão. Todo sempre me perguntou se eu já tinha vivido algo assim para compôr essa canção e a minha resposta sempre foi negativa... Até hoje! Num súbito momento, eu consigo sentir como é amar duas pessoas tanto a esse ponto. Uma mulher para eu construir uma família e um filho para cuidar pra sempre.
Lucas: Oh mozão, cheguei a conclusão já faz tempo que a gente fica, quase um namoro, sei lá, a gente enrola... Eu sinto falta de você quando não está aqui! Sei lá, deu vontade de te amarrar, colar em você e te prender a mim. Vontade de casar, ter filhos pra gente cuidar, pra sempre namorar. Eu sei tô viajando, tô novo, mas o que custa sonhar? Se o tempo não para de passar e nunca vai parar! Num piscar de olhos tá passando mais de um mês, a gente fica velho e o que a gente fez? Não deixe o nosso plano acabar, esteja aqui amanhã quando eu acordar... Momozin, vamos fazer assim, eu cuido de você, você cuida de mim. Não desisto de você e nem você de mim, vamos até o fim. Dá a mão pra mim?
Cantarolei baixinho e acabei deixando algumas lágrimas caírem pelo meu rosto, não tinha jeito. Ela se tornara responsável por me fazer o homem mais realizado desse mundo! E eu só posso agradecer por ter acabado deixar algumas besteiras escaparem pra ela hoje, pois foi, estranhamente, graças a isso que eu não fui impedido de realizar mais um grande sonho da minha vida. 

Lucas OFF

Helô ON

Depois de uma conversa daquelas com o Lucas, me peguei imersa de novo nos meus pensamentos: os mais confusos que eu já tive em toda minha vida. Isso me resultou a cair no sono sem nem me lembrar que o Lucas ainda estava ali por perto. Não tenho noção de quanto tempo eu dormi, mas acordei, coçando os meus olhos e vendo que ele não estava mais lá. E já estava a noite! Peguei meu celular pra ver e já eram 19:00, inclusive o meu celular também estava cheio de coisa. Fechei todas as notificações e levantei de lá, indo para a cozinha e até tomando um pouco de susto, descobrindo que o Lucas não estava mais na sala, só que ainda na minha casa. Respirei fundo porque me trouxe de volta a realidade: Eu estava grávida e ele já tinha conhecimento disso. Inclusive, ainda conseguia achar isso a oitava maravilha do mundo. A voz dele ecoou pelo cômodo e por um lado foi até bom que me livrou desses pensamentos tão decepcionantes que não deixavam minha mente descansar em paz um sequer milésimo de segundo
Lucas: Olha... - ele falou fechando a porta da minha geladeira com a caixinha de suco na mão - Fui ali na padaria e comprei um sanduíche natural pro cê, deve tá muito tempo sem comer, né? - ele disse fazendo referência ao lanche que já estava até no prato sobre a bancada - Tava pensando em te acordar pra te dá isso, mas como cê acordou antes né.. - ele colocou o copo de suco sobre a bancada e sentou numa outra banqueta, onde eu ia sentar do lado dele
Helô: É.. obrigada! - foram as únicas palavras que eu consegui falar frente aquele rosto repleto de felicidade que ele tinha. Na verdade, aquilo me constrangia, porque quase me obrigava a ficar alegre por uma notícia que não tinha todo esse valor para a minha vida como para dele. E o pior de tudo isso... Me trazia sempre a mente como a possibilidade de privar ele desse momento rondou a minha mente.
Lucas: Helô? - ele falou quando eu já ia começar a abocanhar o sanduíche - Para de ficar com esse arzinho que não combina com cê muito menos com o momento. Eu não vou ficar levantando esse assunto mais, porque eu acho que cê tem que se acostumar e se Deus ouvir minhas orações, vai ser em breve, sendo que não deixa isso abater você. Nem tem razões para isso, cê vai ver...
Helô: Eu quero que você respeite isso de verdade! Eu sei que você tá feliz, mas isso me deixa ainda mais imersa nos meus pensamentos. Eu preciso acertar tudo pra saber como vai ser daqui pra frente... Na verdade, eu só quero conversar com a minha mãe.
Lucas: Cê quer que eu te leve lá amanhã?
Helô: Eu quero ir hoje! Além de eu ter certeza que eu não vou conseguir dormir, ainda tirei todo esse sono agora a tarde - falei, enquanto lanchava e ele ficava só observando, provavelmente porque já deveria ter feito sua refeição regrada
Lucas: Cê que sabe.. Se cê preferir assim, eu te levo lá hoje.
Helô: Não precisa me levar, eu consigo ir sozinha.
Lucas: Eu não vou ficar lá, eu sei que cê precisa desse momento com ela, mas deixa eu pelo menos te levar? Por favor, Helô!
Helô: Tudo bem, Lucas... Vou terminar de comer e a gente vai, tá?
Lucas: Por mim, a hora que cê quiser
O silêncio tomou conta e nós dois sabíamos o quanto aquele clima estava estranho em função do momento. Mas ele não forçou barra e tinha ciência do quanto eu estava precisando me encontrar para poder prosseguir com tudo isso. O bom ainda foi que eu consegui me alimentar rapidinho e avisei a ele que iria lá pro quarto pra poder me arrumar, afinal, ainda estava com essa roupa desde cedo. Ele assentiu e disse que ficaria na sala, assistindo televisão mesmo, então fui me arrumar. Entrei no banheiro e depois de me despir, adentrei ao box de onde comecei a tomar banho. Como sentido normal, a água descia pelo meu corpo, mas para mim soava diferente: levava os meus olhos até a minha barriga. Aquela que em breve cresceria sem parar e já era o lar de alguém. Um ser que eu não sabia quem é e nem sequer conseguia reconhecer, mas já tinha consciência que é o resultado da melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Se tudo isso servisse para alguma coisa, eu diria para me provar como foi bom esbarrar com uma pessoa tipo o Lucas na minha vida. Nunca pensei que mesmo com todos os meus erros, ele pudesse ser tão compreensivo nesse momento. E o mais estranho, principalmente pra mim, embora conhecedora do desejo dele de ser pai, de tudo isso: Ele estava radiante pela notícia! Parecia que havia dado um salto na carreira ou que vira sua família realizar algo muito especial. É um choque para mim esse tipo de reação, muito provavelmente por ela tá passando bem longe do que eu estava sentindo agora. Ainda estava sendo corroída pelo desejo de voltar no tempo e isso é a pior coisa que pode acontecer com alguém. Tentei evitar esses pensamentos, lavando bem o meu rosto, e depois de me lavar, saindo para me secar e decidir pelo o que vestir. Não estava com muita paciência para escolher alguma roupa específica, mas de uma coisa eu tinha certeza: não queria mostrar a minha barriga. Ela ainda estava igual por fora, do mesmo jeito, nunca iriam cogitar a hipótese de eu estar grávida, mas eu sabia da realidade e isso me incomodava. Optei por um look qualquer, fiz um rabo de cavalo, calcei um chinelo, coloquei um brinco e saí vendo o Lucas lá sentado no sofá assistindo a novela das sete. Chamei ele pra irmos, peguei a minha chave do apê e nós descemos lá pra garagem, onde ele tinha também colocado o carro dele. Entramos lá, ele deixou na rádio local mesmo e no caminho eu fui olhando as notificações toda, atualizei o instagram, respondi algumas mensagens e deixei a da Isabella por último.
"Amiga, como você tá? 16:06
Helô????17:23
Cara, tô preocupada com você 18:58
Me responde assim que puder, juro!! 18:59

Oi, Isa!

Desculpa a demora...

Tava precisando ficar sozinha e acabei dormindo tb

Inclusive, muita coisa aconteceu...

Tava toda hora atualizando essa conversa 

pra saber de você

Mas ai meu Deus...

Que que houve, meu?

O Lucas já sabe!

Que?

Você contou?

Acabei contando..

Não queria, achei que esconder seria a melhor opção

Mas não deu! A gente acabou brigando

E eu soltei a verdade

De um jeito ou de outro, você

sabe que eu acho que você fez o certo

Ele tinha esse direito e ninguém pode tirar!

Como ele tá com isso?

Feliz até mais que o esperado

Mas eu não quero falar sobre isso

Ou melhor quero só com uma pessoa: com a minha mãe

Tô descendo agora

Eu já sabia que ele ficar assim

Ele sempre falou sobre o quanto queria ser pai

Ainda mais de um filho de vcs...

Mas tudo bem!

Tá dirigindo e conversando comigo, Heloíza?

Não, tô com o Lucas

Ele veio me trazer

Ahhhhhh bom

Então, qualquer coisa você me chama, tá?

Ainda mais estando aqui perto.

Vou ajudar o Nick com o dever...

Te amo! Fica com Deus.

Obrigada, também amo você.

Fica com Ele também. Vocês dois!"

Bloqueei o celular pensando na frase da Isabella sobre ter que ir ensinar o Nick a fazer dever. Eu sei que já estou ficando paranoica, mas não é possível que só eu não enxergue o quanto eu sou uma das poucas mulheres do mundo que, definitivamente, não nasceu para ser mãe. Quando que eu ia fazer isso, com todo cuidado e paciência que pessoas como a Isa tem? Nunca. Não tinha outra explicação para esse meu pavor dessa gravidez: só eu sabia das minhas condições e aptidão para isso. Briguei com a minha própria mente de novo por estar pensando nessas condições e acabei tentando me distrair com a música, embora a situação fosse bem difícil para mim. Chegamos na frente da casa dos meus pais por volta das 20:30 e eu acabei tomando voz dentro do carro.

Helô: Você não quer ficar não?

Lucas: Não... Acho que esse é um momento do cês, sei que cê tá precisando conversar com ela e principalmente ouvir o que ela tem a dizer. Só vim pra te trazer mesmo!

Helô: Tá bom então, obrigada... - me aproximei dele e dei um selinho, o que ele acabou por fazer virar um beijo. De tom calmo, diferente dos nossos e de como eu estava naquele momento, ele quebrou um pouco de todo essa movimentação bagunçada que estava dentro de mim. Terminou me dando mais alguns selinhos, me transmitindo toda a paz que ele desejara e demonstrando todo o carinho que sentia por mim - Eu devo dormir aqui hoje, mas dependendo das coisas, eu te ligo pra gente se ver amanhã.

Lucas: Ah, esqueci de falar pro cê... Amanhã eu vou pra Patrocínio de tardinha, vê se cê consegue ir mais cedo pra gente se vê.

Helô: Tudo bem, amanhã a gente resolve isso. Vou lá, tá?

Lucas: Tá bom! Se cuida e por favor, qualquer coisa cê me liga, me avisa, me chama, sei lá.

Helô: Pode deixar, obrigada. Beijo! - dei mais um selinho nele lá e fui saindo do carro, dando mais um tchauzinho e depois apertando lá o interfone que logo minha mãe atendeu e foi lá abrir pra mim.

Renata: Oi, filha, que surpresa! - ela falou com um sorriso bem aberto que mudou quando me viu. Embora não tivesse mais com cara de choro, provavelmente minhas expressões estavam baixas e claro que a pessoa que mais me conhecia no mundo, não ia deixar isso passar desapercebido - Aconteceu alguma coisa?

Helô: Eu tô precisando de você, mãe, me dá um abraço?

Renata: Oh meu amor, o que houve? - ela disse me puxando e trazendo para dentro daqueles calorosos braços dela. De fato, não havia lugar melhor no mundo para curar os meus anseios. Segurei o choro, mas era inegável que ele já estava ali na minha garganta, louco para sair a fora.

Helô: Vamos entrar que a história é longa e você precisa estar sentada - ela não fez uma cara muito boa e passou lá só pra fechar o portão, deixando nós duas adentrarmos a casa pela sala de estar adentro - Meu pai não está aqui não?

Renata: Foi lá na sua madrinha ajudar com a montagem de um armário do Rafa que chegou, mas disse que logo logo está aí.

Helô: Melhor ainda - falei me sentando lá no sofá e ela sentou bem do meu lado - Mãe, eu tô... grávida! - falei soltando um suspiro logo em seguida

Renata: Que, Helô? A minha filha vai ser mãe, é isso? - ela falou com o rosto completamente dominado pela surpresa

Helô: A parte de eu ser mãe eu já não sei, mas de estar grávida é um fato que infelizmente eu não posso voltar atrás.

Renata: Do que você tá falando, Heloíza? Infelizmente? Isso não é tom pra esse momento.

Helô: Mãe, eu não quero ser mãe! - olhei pra cima para evitar que as lágrimas caíssem, porque eu sei que hoje já tinha ultrapassado minha cota de choros do dia de hoje

Renata: Não fala isso, você tá louca? - ela pausou e ficou me encarando um pouco - Olha, vou conversar com você sobre isso como mãe e como amiga. Eu acho você muito nova pra tá grávida e mesmo tendo engravidado de você na mesma idade que você tá agora, inclusive, eu não queria que isso tivesse acontecendo com você. A gente sempre conversou muito, eu te pedia pra tomar cuidado, pra prestar atenção, porque um filho muda tudo e você ainda tem muita vida pela frente. É lógico que, no meu lado mais racional possível, eu também não queria que você tivesse me contando isso agora por duas razões. Porque eu sei como é ter filho nova e eu esperava que você vivesse mais, estudasse mais, curtisse mais para depois encarar essa responsabilidade e porque eu me sinto um pouco fraquejada como mãe de ás vezes parecer que eu não te orientei bem sobre o uso da camisinha e quem sabe até podia ter te obrigado a tomar anticoncepcional desde que você me contou que perdeu a virgindade. Sendo que eu, diferente de você e do seu pai, sou muito mais emocional e não consigo me sentir na obrigação de ficar brigando com você. Você tem a sua vida, o seu namorado, a sua estabilidade e acho que tinha consciência de tudo o que faz. Filho é uma benção a hora que tem que vir! Deus que escolhe isso, de certa forma, não é a gente. E eu tô muito feliz de ser avó, porque se dizem que avó é mãe em dobro, eu pago pra ver se vou aguentar amar alguém duas vezes mais do que eu te amo. - já tinha dado a hora das lágrimas caírem porque minha mãe não me deixa ficar com elas contidas, ainda mais depois dessas palavras tão lindas.

Helô: Mãe, olha como você é maravilhosa! Quando eu vou conseguir ser assim? Eu não nasci pra isso, cara, pode brigar comigo porque eu fiz estupidez, eu fiz uma merda na minha vida.

Renata: Heloíza, não é assim que se fala! Não é que você esteja rejeitando esse filho, o que você não tá sabendo lidar é com essa insegurança de não ser boa o suficiente, né?! - ela tocou no ponto certo, a minha mãe nunca errava em nada e isso era incrível - Você nunca sentiu isso, sempre foi muito independente e dona de si, eu sei perfeitamente. Isso é uma novidade a ideia de pensar que não seria boa nem mesmo para o próprio filho. Mas eu quero te contar uma coisa... Ninguém nasce sabendo ser mãe! Você acha que eu sabia como cuidar de você, dá o carinho que você merecia quando soube que tava grávida? Ou melhor, pensa numa coisa que você mesma viveu. Você jura que a Isabella estava preparada para receber o Nick? E olha aí como ela é hoje uma mãe exemplar e muito guerreira, desde tão nova. Filho muda tudo mesmo, mas a maioria das coisas é pra melhor, você não confia em mim?

Helô: É claro que eu confio, mãe, mas eu não vou saber fazer isso, eu não sou que nem vocês. - disse limpando meu rosto tentando evitar que mais choro tomasse conta do meu rosto

Renata: Ninguém é igual a ninguém, mas aprender é uma coisa que todo mundo sabe. Ainda mais quando tem uma motivação. E Helô, você vai ter a maior motivação do mundo que é o amor do seu filho! Ninguém cria filho pra si próprio, o mundo se torna responsável por ele, só olhar você. Eu não te criei para mim e pro seu pai, a gente deixou você ser quem você é e olha como você cresceu bem. E agora é hora de crescer muito mais dando luz a essa criança que veio enviado lá do Céu pra você. Deus não faz nada sem hora, sem propósito e Ele vai te mostrar isso em breve, confia nisso também.

Helô: Ai mãe, tá muito difícil acreditar nisso, eu tô frustrada com as minhas próprias atitudes.

Renata: Não se culpa por nada, você não tem que ficar pensando em situações hipotéticas, Helô. Teu filho tá aí e agora é hora de olhar pra frente, viver um dia de cada vez e seguir com essa situação. Você não tá sozinha! Nunca vai tá, nunca. - ela pausou, segurando a minha mão e a apertando - O Lucas já sabe?

Helô: Ai, com o Lucas foi outra confusão...

Renata: Por que? Não vai me dizer que ele não quis assumir? - ela falou em tom incrédulo, até me interrompendo

Helô: Não, mãe, muito pelo contrário. Ele tá fascinado com essa ideia! Algo de modo que até me constrange por eu não estar assim. Mas eu pensei que podia deixar isso quieto, sem ele saber, mas não deu certo, eu acabei tendo que contar porque não ia responder por mim sobre isso

Renata: Ainda bem que você contou, porque se você me chega com uma história dessa de segredo pro próprio pai, aí que você ia arranjar confusão porque eu ia te fazer ir lá e contar. Ele é a pessoa que mais tem direito de saber disso! E eu fico muito mais tranquila sabendo que o pai é ele, um cara do bem e que sempre teve esse sonho.

Helô: Enquanto eu...

Renata: Enquanto você vai aprender com essa nova realidade e entender que isso é muito maior do que qualquer sonho que você tem, vai por mim. - eu suspirei novamente e ela ficou me olhando um pouquinho, de novo, em silêncio - Quando você soube disso, Helô?

Helô: Hoje, mais cedo. Já tem um tempo que eu toda hora tava sentindo alguma coisa, né?! Aí hoje tava com uma dor de cabeça monstruosa e a Isabella, que ia sair comigo, me convenceu a ir na emergência saber do que era. Acabou sendo algo muito maior do que eu imaginava.

Renata: Eu imagino a sua reação, meu Deus... Ainda bem que a Isa estava lá com você.

Helô: Nem queira imaginar, mãe, é melhor.

Renata: Você só teve consulta sobre o resultado ou já sabe quanto tempo tá, essas coisas?

Helô: Sei de nada! Só soube que deu positivo e quis sair o mais rápido possível.

Renata: Ah, Helô... - ela pausou - Deve tá de pouquinho tempo, mas a gente já tem que começar a ver sobre pré natal, fazer ultra e tudo mais. Você só fez exame de sangue, né?!

Helô: Só! Mas mãe, calma, eu preciso me acostumar com essa ideia, pensar ainda mais, ficar calma, aceitar e aí eu vou ver isso

Renata: Tudo bem, você tem que ter seu tempo, mas não pode demorar muito. O pré natal é muito importante e quanto mais cedo começar é melhor!

Helô: Eu sei, pelo menos dessa parte, fica tranquila

Renata: Agora quem quer um abraço sou eu que tô muito feliz e do seu lado pra sempre. De vocês dois agora, né?! - ela abriu os braços e eu me afaguei por ali novamente

Helô: Vai ser puxado me acostumar com isso, nem fala ainda, por favor. Mas obrigada! Você tá me ajudando a tirar esse peso enorme das costas.

Renata: Tudo passa, meu amor, só vai vir felicidade de agora em diante. - ela falou isso, me dando um beijo na testa e só terminamos nosso abraço quando meu pai entrou lá em casa, fazendo nós o olharmos.

Sergio: Meu Deus, que coisa linda, minhas mulheres em casa! - ele falou enquanto trancava a porta e depois virou para nos olhar - Que carinhas são essas?

Helô: Nada, pai! - falei rápido e minha mãe me encarou

Renata: Conta pra ele, Helô!

Helô: Mãe! - a repreendi com o mesmo olhar

Renata: Você tem que parar com isso de achar que pode esconder dos outros, principalmente de quem te ama e merece saber disso. Pelo menos pro seu pai!

Sergio: Ih que conversa estranha é essa? O que você fez, Helô?

Helô: Ai... - bufei - Eu vou contar, mas eu não quero conversar sobre esse assunto, tá? - olhei pra ele - Eu tô grávida, pai!

Sergio: Você tá o que? Como assim?

Helô: É a mesma pergunta que eu estou me fazendo, mas não tenho outra resposta pra te dá além dessa que não tem mudança... eu tô grávida!

Sergio: Pera aí que eu preciso raciocinar sobre isso - ele sentou lá no sofá

Helô: Se você demorar o mesmo tempo que eu estou pra fazer isso, é melhor a gente só conversar amanhã - levantei lá do sofá mas logo fui travada pela voz dele

Sergio: Não, pera aí Heloíza, pelo menos você tem que me deixar saber é, sei lá, com quantos meses você tá, se o Lucas já sabe, quando foi isso

Helô: Pai, eu não sei de nada! E o Lucas já sabe, antes que você pergunte, tá amando essa história, diferentemente de mim.

Sergio: Calma, Helô! - ele levantou lá do sofá e veio me abraçar - Vou respeitar seu momento, mas quero só te dizer que você vai entender que ter filho é a coisa mais linda do mundo, que nem eu entendi quando você nasceu. E desculpa não saber o que falar, eu só realmente preciso pensar sobre o fato da minha bebê agora ter um, né?!

Helô: Não precisa pedir desculpa, agora eu quero ficar sozinha de novo, só que lá no meu quarto. Posso dormir aqui?

Renata: E você ainda pergunta? Claro que pode!

Helô: Vou pra lá então, deitar e descansar desse dia que mais pareceu interminável.

Sergio: Qualquer coisa chama a gente, estamos do seu lado... pra tudo! - ele falou essas palavras soltando um sorriso que eu mal consegui retribuir.

Peguei meu celular e fui lá pro meu quarto da casa dos meus pais. A cama estava arrumadinha, tudo sempre impecável como se eu estivesse ali. Minha mãe tinha esse costume de deixar assim para que quando eu aparecesse lá de surpresa, ter coisas minhas direito, inclusive algumas roupas. Me joguei lá na cama e fiquei administrando as últimas coisas que me aconteceram, principalmente sobre a conversa com a minha mãe e sobre a reação de certa forma boa e inesperada do meu pai. Era meio louco pensar como a minha vida num espaço de vinte e quatro horas se transformou em outra. Ou melhor, em duas, ainda que me fosse difícil me avaliar assim. Não sei até quando eu ia sustentar essa ideia de não suportar essa gravidez e nem sabia se conseguiria um dia aceitá-la, mas já admitia que aquilo era um fato imutável na minha realidade desde então. Assim, a minha solução para finalizar a noite, embora soubesse que não cairia em sono nem tão cedo, foi rezar não agradecendo, como o meu costume, e sim pedindo, apesar de saber o quão errôneo isso era. Mas eu precisava de uma orientação e se ela não viesse de Deus, eu não saberia prosseguir naquele caminho tenuoso no qual eu havia me colocado. 

Acordei com o meu celular tocando lá e fui atender meio de olhos fechados ainda, pela preguiça. Consegui enxergar no visor só duas coisas: Que eram 09:00 e que era a Isabella. Xinguei muito essa menina mentalmente por estar me ligando a essa hora e fui logo atendê-la.

Helô: Tu tá de sacanagem que tá me ligando agora né, Isabella?

Isabella: Oi meu amor, sabia que você ia me atender assim - ela riu - Mas não é culpa minha, xingue Carolina Dantas.

Helô: Que? Vocês tão juntas?

Isabella: Sim senhora e ela que mandou te ligar! A Carol tá aqui na clínica da minha mãe tentando ficar gata e depois vai dá uma passadinha lá em casa, então, ela pediu pra te ligar pra você ir pra lá e almoçar com a gente.

Helô: Ah gente... Tô afim de sair não!

Isabella: Vem, Helô! A gente tá te esperando, tô falando sério.

Helô: Eu também! Você sabe que eu tô querendo mesmo é ficar na minha, né?! 

Isabella: Sei e respeito, mas preferia você aqui, até assim ia me sentir melhor.

Helô: Deixa pra próxima, fala pra Carol que depois a gente marca de fazer alguma coisa.

Isabella: Ah, você que sabe então... Só fica com Deus, tá?

Helô: Vocês duas também, juízo! - a Isabella riu - Beijinhos

Isabella: Beijos - desliguei lá o celular e acabei sentando na cama. Não iria conseguir dormir mais mesmo, então, o melhor a fazer era me abastecer, porque minha barriga já tava roncando de fome.

Levantei indo lá pro banheiro, fiz meu xixi, lavei meu rosto, prendi meu cabelo com um coque frouxo, ajeitei minha roupa de dormir e saí lá do quarto encontrando minha mãe até no corredor.

Renata: Bom dia, filhota! - ela me deu um beijo na testa - Tá tudo bem?

Helô: Tudo indo seria o mais correto...

Renata: Você acordando cedo não é muito normal!

Helô: Ah, foi que a Isa me ligou também... Mas enfim, quero tomar café, tem coisa aí?

Renata: Tá tudo lá na mesa, acabei de fazer isso quase agora

Helô: Que isso hein, descansou hoje

Renata: Uhum, seu pai saiu pra trabalhar mais tarde também e cooperou com o meu sono - dei uma risadinha e passei para a cozinha vendo de fato as coisas do café ainda por lá. Peguei um copo e um pratinho, me sentei lá e fiz minha refeição sozinha mesmo, apesar de não me importar com isso. Quando terminei, lavei ainda a louça que eu tinha sujado e depois voltei pro meu quarto. Sentei na cama para ver meu feed no instagram e tinha seis chamadas perdidas. Olhei e descobri que eram da Carol mesmo, já sabia então do que se tratava. Atualizei primeiro as minhas redes sociais e depois retornei a chamada para ela.

Helô: Fala, Carolina do Céu!

Carol: Nada, só que eu tô te esperando aqui na Isa! Aliás, tamo indo pra casa já

Helô: Larga de ser chata, ou, depois a gente marca algo sério

Carol: Se meu filho tivesse aqui tu ia querer vir né?!

Helô: Claro, eu vou me casar com o Davi e você nem tá sabendo - ela riu

Carol: Deus me livre ter você de nora, deixa pra mãe do Lucas isso aí mesmo - dessa vez fui eu quem acabei soltando um risinho - Agora tô falando sério, vem pra cá só pra gente almoçar, por favor

Helô: Ai cara...

Carol: Por favor! Depois que a gente almoçar, pode fazer igual cachorro e meter o pé, juro

Helô: Puta que pariu... Tá bom, Carol, daqui a pouco eu tô aí.

Carol: Sabia que você ia acabar vindo

Helô: Olha que eu desisto tá, minha filha?

Carol: Nada disso, vem logo! Beijos

Helô: Beijo 

Desliguei lá o celular e apesar de meio contrariada, acabei decidindo ir lá pra Isabella almoçar com ela e com a Carol mais tarde. Estava querendo me divertir um pouco e acho que poderia encontrar nelas uma válvula de escape. Então, levantei e fui pro banheiro tomar um banho rápido, depois escolhendo com as peças que eu tinha lá mesmo um look para eu ir. Calcei o chinelo que eu tinha vindo ontem, soltei meu cabelo, pus um brinco, peguei meu celular e era assim mesmo que eu ia. Saí do quarto num tempo de vinte minutos depois, avisei e pedi o carro da minha mãe para ir lá na Isa e não demorei muito também para chegar lá, já sendo recepcionada pelas duas lindonas. O Nick tava pro colégio e a tia Marta tava trabalhando lá na clínica de estética dela, então, só estávamos nós três em casa e nós adentramos a casa da Isabella. Ficamos conversando um pouco, decidindo sobre o almoço e de fato aquilo me distraiu muito mais do que eu esperava, ainda que muitas vezes a Isabella e a Carolina ficasse falando sobre as crianças. Eu não conseguia me sentir já dentro daquele mundo, mas sabia que em breve faria parte de um papo corriqueiro desse.

Carolina: Ai gente - ela falou mexendo no celular - O Neymar fica mandando várias fotos e vídeos pra mostrar pro Davi, sendo que tipo, manda a qualquer hora, sem saber se eu tô em casa, se eu tô na rua, aí meu celular fica assim, cheio de coisa - ela falou reclamando tão engraçada que a gente acabou soltando um risinho. 

Isabella: Deixa ele tentar ficar próximo do Davi, menina

Carolina: Eu deixo, mas não tô vendo a hora do Davi poder ter o próprio celular, aí minha memória vai agradecer - a Isabella riu

Isabella: Mas sei como é, tô entendendo bem essa história de pai a distância, só Jesus.

Carolina: Pra tu ver... - aquele assunto me causou a lembrança de uma similaridade qualquer na minha história com a da Carol e embora eu quisesse esconder o máximo de pessoas possíveis, eu não me contive e mudei um pouco dos rumos da conversa.

Helô: Carol, posso te fazer uma pergunta?

Carolina: Ah Helô, claro né?!

Helô: Como foi pra você assim quando todo mundo começou a saber que você era a mãe do filho do Neymar? - a Isabella me olhou já sabendo aonde eu queria chegar com aquela conversa

Carolina: De verdade? No começo foi péssimo! Todo mundo julga, fala muita besteira e ainda mais que a gente não tinha um relacionamento sério, sabe? 

Helô: Eu lembro bem de como falavam, saía em tudo quanto é lugar e isso porque você nem tinha mais as redes sociais né?!

Carolina: Pois é... Mas depois tudo se acalma, agora é só ver como o Davi é o queridinho das fãs dele - rimos

Helô: Mas tipo, tu se arrependeu de ter contado pra ele que tava grávida?

Carolina: Eu achava que tinha que esconder mesmo, não achava legal contar por ele ser famoso. Mas depois eu vi que ia fazer a maior idiotice! Tanto pelo meu filho quanto por ele mesmo. Ele tinha o direito de saber que era pai e o meu filho o direito de saber quem era o pai. Me arrependeria muito mais se não tivesse contado e depois ia dar muito mais rolo essa história. E tem mais, a relação deles dois é maravilhosa! O Neymar virou outro depois que o Davi nasceu e isso me deixa muito feliz.

Helô: Com relação a você? Foi mó susto né?!

Carolina: Pra caramba... Mas sei lá, passou e da melhor forma possível. Se tornar mãe foi a coisa mais incrível que já me aconteceu! - ela pausou, me olhando - Mas que isso? Largou a moda e ta virando jornalista?

Helô: Não, não... - falei com um riso meio esboçado - Se eu te contar uma coisa, você não espalha?

Carolina: Claro que não né, Helô?

Helô Eu tô grávida! - falei fechando os olhos

Carolina: Mentira? Parabéns, Helô! Isso é fantástico!

Isabella: Ela ainda tá na fase de negação, nem adianta dá parabéns

Carolina: Eu já passei por isso, a Isa também, é a época mais terrivel, mas acredite, ela vai passar.

Helô: Eu não tenho tanta certeza assim!

Carolina: Só olhar pra gente que você vai ver como passa! Agora para, você pensou em esconder isso do Lucas também?

Helô: Não escondi por muito pouco... Mas agora que ele sabe, tá todo bobo com essa notícia, não tô sabendo administrar muito bem isso. - a Carol ia falar alguma coisa, mas logo meu celular tocou e quando olhei no visor, lá estava o nome dele - É ele! Ai... deixa eu atender - não falei mais nada e foi isso que eu fiz, deixando que elas esperassem para que dessemos prosseguimento ao papo

Helô OFF 

Lucas ON

Com toda essa história e essa nova realidade que me ronda, acabei dormindo quase nada durante a noite e quando fui pegar no sono já havia amanhecido, o que fez acontecer algo que eu odeio: Acordar tarde! Olhei a hora e já eram 11:30. Levantei da cama pronto para fazer xixi, fiz meu café da manhã de acordo com a minha dieta e quando terminei me deitei na cama, pegando meu celular. Atualizei meu feed no instagram, curti a foto de alguns fã clubes e acabei vendo uma foto que a minha mãe tinha postado a pouco tempo atrás. Sei que essa não era a maneira mais correta de contar a ela e que eu poderia esperar chegar lá em Patrocínio, mas só Deus sabe o quanto eu estava precisando conversar com alguém e ninguém melhor que uma mãe para entender seu filho. Embora tivesse muito contente com tudo isso que me acontecia e com essa paternidade, eu queria entender e receber maneiras de fazer a Helô entender o quanto estávamos sendo agraciados com tudo aquilo que nos acontecia. Liguei então para a minha mãe que demorou quase nada para me atender.

Karina: Oi, filho! Cê tá bem? - ela me atendia com aquela voz animada de sempre

Lucas: Oi, mãe, tô bem sim e a senhora?

Karina: Tô bem também. 

Lucas: Então, liguei porque eu tava precisando falar com cê...

Karina: Desde que não seja cê dizendo que não vai vir para cá, estou toda a ouvidos - ela falou em tom de brincadeira, causando alguns risinhos em nós dois

Lucas: Não, não é isso, logo menos estou aí. Mas tenho uma coisa séria para contar! Cê tá sozinha aí?

Karina: Tô, tô no quarto, tem ninguém aqui não. Mas tô ficando preocupada, o que tá acontecendo, Lucas?

Lucas: Calma, é uma notícia boa. Pelo menos para mim está sendo ótima... Sei que esse não é o jeito mais correto de te contar, queria muito ver sua carinha linda quando souber, mas é que eu tô precisando de uma opinião memo. Eu vou ser pai, mãe!

Karina: O que, Lucas? A Helô está grávida?

Lucas: Pois é, mãe! Cê acredita? Ela descobriu isso hoje, tô tão feliz... Mais um sonho que Deus realizou pra mim. - falei com um sorriso no rosto

Karina: Meu Deus, meu filho... Fui pega totalmente de surpresa com isso, mas só de perceber como a sua voz está contente, eu me alegro por inteira. Olha só, eu sendo vovó... - ela deu um risinho - Parabéns por essa dádiva, meu amor! Mas aqui eu falo tudo o que eu tenho, até porque preciso assimilar essas ideias ainda.

Lucas: Tudo bem, mãe, até prefiro que seja pessoalmente mesmo.

Karina: Mas o que tá te atormentando se a notícia é tão boa?

Lucas: A Helô...

Karina: Ué, o que houve? Como ela tá? Ela tá aí com você?

Lucas: Não, ela tá com os pais dela lá no Guarujá. Mas ela não tá feliz com essa notícia! Ela tá meio que rejeitando essa gravidez e eu tô muito perdido, porque memo que eu demonstre para ela que eu tô aqui, que ela é responsável por gerar um sonho meu, ela ainda fica relutando contra isso, fica dizendo que fez besteira, isso tem me feito pensar muito no que eu posso fazer.

Karina: Ah, Lucas, mentira? A Helô deve estar uma pilha... Ela é sempre tão racional, tão coerente com as atitudes dela que não deve tá sabendo lidar com mais uma novidade que cê trouxe a vida dela. Querendo ou não, isso não foi uma coisa planejada e não é fácil assim aceitar. Ainda mais porque cês são tão novos...

Lucas: Mas ela como mãe não deveria ficar tão feliz quanto eu tô?

Karina: Não é assim! As coisas são diferentes para cada um, independente de ser homem ou mulher. Tem gente que tem esse sonho, enquanto outros tem prioridades diferentes, consegue entender? A Helô já tinha me dito uma vez que tinha outras pretensões muito antes de um filho. É mais uma das coisas que ela tem medo, talvez por envolver mais um grande amor.

Lucas: Mas eu quero dividir com ela essa felicidade, mãe, não sei mais o que eu posso fazer. E fico ainda pior por ter que sair daqui de São Paulo e deixá-la aqui, ela tá meio fora dela mesma, fica batendo muito na tecla de querer voltar no tempo, eu tenho até um pouco de medo...

Karina: Medo do que? Não vai me dizer que ela já deu a entender algo sobre aborto?

Lucas: Bate na boca, mãe, por favor! Ela não disse nada disso, só que passa na minha cabeça que ela possa fazer algo perto... Ah sei lá, não devia tá pensando isso sobre ela.

Karina: Não mesmo! Embora não tenha a visto ainda e imagino que esteja muito atordoada, ela tem muito Deus no coração, não seria capaz. Fica calmo com relação a isso!

Lucas: Eu queria, sendo que ela mesmo me disse também que não queria me contar sobre isso. Quando eu fui na casa dela, ela disse que precisava terminar só pra me esconder essa gravidez. Ela só me contou porque eu acabei falando a besteira e ela que não aguenta muto tempo soltou a notícia. Por isso que eu fico meio angustiado, sabe?

Karina: Nossa, meu filho, então acho que ela está muito mais confusa com essa situação do que eu pensava... Mas ela está com a Rê?

Lucas: Ela foi pra lá ontem! Eu ainda deixei ela lá que acabou dormindo com eles.

Karina: Ah, com certeza  a Rê vai trazê-la de volta a razão, agora memo que pode ficar calmo

Lucas: Deus te ouça, mãe!

Karina: Mas, como mãe e agora vovó, tive uma ideia e vou fazer uma coisa pra ajudar essa situação. Traz ela pra cá junto com você hoje!

Lucas: O que é? Será que ela vai querer ir?

Karina: Fala que foi um convite meu, ela não vai ter como negar. Preciso muito que ela venha!

Lucas: Vou ligar pra ela então... Mas espera, cê não vai me contar o que é?

Karina: Lucas, liga e resolve com ela para vir, depois eu te explico. Garanto que se ela ainda não aceitou essa gravidez, depois do que pretendo ela vai entender como Deus é generoso ao plantar a semente da vida.

Lucas: Eita, mãe... Até me convenceu com isso! Vou ligar agora e depois te mando mensagem sobre a resposta dela.

Karina: Tudo bem, tô esperando, meu amor. Se cuida! 

Lucas: Beijo, obrigado. Te amo muito!

Karina: Eu também! Demais. - desliguei o celular e nem bloqueei ele novamente, indo direto na chamada e buscando o número dela para ligar, dando a última cartada para que ela entenda a respeito dessa gravidez.

Lucas OFF

Genteeeee!! Juro que vocês quase me mataram de tanto amor (e de rir, Deus e vocês vão me perdoar por isso haha) com os últimos comentários. Vocês são simplesmente maravilhosas! Sem sombra de dúvidas, foi a postagem com os comentários que mais me deixaram felizes. Me deram sugestões, várias ideias e opinaram de forma incrível, cada uma com seu ponto de vista. Muito obrigada por isso e por sempre fazerem valer a pena. Tá aí o capítulo não tão grande em virtude da falta de fotos também, mas acho que bem elaborado de maneira a satisfazer todos... Acharam que eu ia deixar a Helô esconder a gravidez do Lucas, né?! Eu sei que por alguns segundos lendo o capítulo vocês quiseram me matar e me xingaram, tudo bem haha. Espero que tenham gostado muito desse capítulo e que eu esteja sabendo retribuir da mesma maneira que vocês vem me causando felicidade. Agora vamos lá... Qual será a ideia brilhante da Karina para fazer a Helô enxergar a gravidez de forma diferente? Será que vai dar certo? Conto com a opinião de vocês de novo pro próximo capítulo sair bem rapidinho! Tô tentando fazer o menos clichê possível e tô querendo saber se vocês tão achando que tá bom assim. Beijocaaaaas!